sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Missão cumprida

O que eu mais gostava eram as cores. As cores que tinham cheiro e gosto. Gostava de flutuar também. De ver todo mundo por cima. E de estar de mãos dadas com ele. Na verdade eu gostava de tudo. Quando a gente voltava, batia aquela sensação de tá faltando algo e acabava usando outras coisas só pra partir pra outras dimensões. A gente tava sempre alto, e não ligava pra nada. Faculdade era só pra ter a carterinha do cinema. E pra morar com o meu namorado.
Eu lembro de ser feliz. Lembro de poucas coisas, mas eu sei que eu era feliz. Eu e ele. E era só o que importava. A gente, morar juntos e ficar alto.
Mas as coisas mudaram de repente. Infelizmente eu ainda lembro como se fosse ontem. Me lembro todos os dias, todos os segundos. Era um dia como qualquer outro. Uma quarta-feira eu acho. E ele deu a idéia de cheirar. Eu estava afim de uma coisa mais leve, mas ele insistiu e acho que eu nunca disse não pra ele. Num segundo a gente estava rindo e no outro ele estava no chão, morto.
Eu era o vazio. Por meses eu fui o vazio. Por que a única coisa que eu já sentira que me completava teve um fim. Dor é um estado de prazer perto de como eu me sentia. Lembro que não passava nada pela minha cabeça mas que as lágrimas escorriam, mesmo sem eu fazer esforço de choro. Lembro de pensar que era só uma das nossas viagens, que tinha dado errado e ia voltar tudo ao normal. Mas não voltou.
Um tempo depois alguém criticou o nosso relacionamento e como ele se autodestruiu e depois disse que infelizmente coisas ruins acontecem e não tem nada que a gente pode fazer pra mudar isso. Disse que tudo na vida tinha um motivo, e que ele passou na minha pra me mostrar o que era sentimento de verdade e que se eu consegui aprender, a missão dele perto de mim estava cumprida.
Depois disso, a aceitação foi inevitável. Mas pra sempre vou sentir falta do gosto das cores e de flutuar do lado dele.

Um comentário: