domingo, 20 de março de 2011

Inconstância, guerra interna e a crueldade dos contos-de-fada

Às vezes queria nascer de novo, para que então não fosse tão inconstante. Pensava que eram os hormônios, a TPM, abstinência de qualquer coisa. Talvez tudo junto. E era. Mas não era a causa principal. Depois de algumas crises percebeu que havia uma insegurança de dimensões catastróficas, daquelas que destroem tudo o que vê pela frente. Claro que mantia essa insegurança guardadinha, bem escondida, pra ninguém ver. Ou não, por que quando menos esperava, explodia. Sentia-se burra demais, fraca demais, gorda demais, depressiva demais.
Percebeu, com muito custo, que não se tratava tanto de insegurança. Mas de medo. Muito medo. Medo do abandono, da doação incondicional, de se machucar, de ser rejeitada. Estava tão calejada que parou de se permitir a sonhar aquele tal dia de princesa, que toda menininha tem. Aquele que é conduzida em direção ao final feliz, em cima de um altar. Pensava que tinha que ser forte, auto-suficiente.
Mas era só se olhar no espelho, que claramente conseguia enxergar uma menininha, no pior sentido da palavra. Era absolutamente imatura, imperfeita, incondicionalmente insegura e terrivelmente medrosa. A ponto de reagir de modo absurdamente exagerado a qualquer minimo estimulo negativo que chegava a ela.
E eis que no meio de sua guerra interna, sua crise existencial, prendeu-se novamente na lenda do principe encantado salvador. Que iria resgatá-la de sua auto-piedade ou de sua ignorância. Não, princesa. Acorda, guarda os sapatinhos de cristal, corte suas tranças, desça da torre e marque uma consulta com um terapeuta. Agora. E, de preferência, não deixe pra segunda-feira. A partir de hoje coma aquelas deliciosas maçãs vermelhas, em vez do brigadeiro de colher.

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